Oi, gente! Além de crítica de cinema, eu sou pesquisadora em gênero e diversidade e queria deixar algumas dicas no sentido de uma comunicação não-excludente, baseada na minha experiência tanto de pesquisa quanto de produção de conteúdo:
1- Não use a @ e o X
Muitas pessoas usam arroba e X para evitar flexionar o gênero das palavras. A ideia é que a forma da arroba incorporaria tanto um “a” (em sua parte interna) como um “o” (a curva externa), podendo representar, então, os gêneros masculino e feminino. Essa é, portanto uma abordagem bastante binária: a divisão em dois gêneros está longe de dar conta das experiências vivenciadas quando se trata de identidade de gênero. Na esteira dessa crítica veio a utilização do X, já mencionado. Acontece que o X, assim como a arroba, carrega em si uma grande exclusão: pessoas cegas, que acessam a internet por meio de dispositivos de leitura de tela, muitas vezes não conseguem entender essas palavras, porque vários dos programas e aplicativos simplesmente não as reconhecem nessas grafias, impossibilitando o entendimento do texto inteiro. Vale dizer, também, que tanto a @ quanto o X são tentativas de solução que lidam apenas com o aspecto textual da comunicação e tornam-se um problema na fala porque na prática são impronunciáveis.
2- "Homem" não é o único tipo de ser humano
A palavra homem deveria ser usada apenas no contexto de pessoas do gênero masculino. Experimente usar "seres humanos" ou "humanidade" no lugar, por exemplo. E use também o termo "pessoas", que engloba qualquer gênero em qualquer situação. Fuja de construções frasais que obriguem uma identificação específica de sujeitos e do masculino como neutro que geralmente é vinculado a eles.
3- Questione plurais
Nessa linha de questionar o masculino como neutro na língua portuguesa, se você está escrevendo (hipoteticamente) sobre um grupo de 8 mulheres e um homem, por que o plural deve ficar no masculino? Escreva de forma de forma a destacar a maioria feminina: "as profissionais entrevistadas...". Se não for possível, faça como discurso político mesmo: "as diretoras e o diretor", "as atrizes e os atores", por exemplo. Mas não apague a presença de mulheres na descrição de um grupo.
4- Se aproveite da informalidade
Querides, se o conteúdo é informal, se joga e aproveita para mandar um "amigues" mesmo, sem comprometimento com a gramática. ;)
Espero que esse conteúdo possa ajudar todo mundo! Uma versão maior dele está disponível nesse post no meu blog, se interessar alguém. Valeu!
Crítica de cinema, criadora do Feito por Elas, pesquisadora doutoranda na Antropologia Social - USP (cinema+gênero+corpo). Ela/dela #MulheresPodcasters